Baleia Azul: um desafio real

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Nas últimas semanas um tema tem estado em evidência e preocupado pais, educadores e autoridades: o suicídio entre os jovens, em especial os adolescentes. Com a repercussão do jogo Baleia Azul, que tem desafios que estimulam o ato, e do lançamento da série “13 Reasons Why”, na Netflix, orientá-los tem sido a grande dificuldade dos responsáveis. Como abrir espaço para tratar angústias e acabar com o desejo da morte?

Convidamos a psicóloga Thaiz Carvalho para falar sobre o tema e auxiliar em como procurar ajuda.

Por Thaiz Carvalho

Quando recebi o convite para escrever sobre a repercussão do jogo da Baleia Azul e do seriado “13 Reasons Why”, fiquei pensando qual o caminho que tomaria. Eu não tinha me posicionado a respeito do tema suicídio em adolescentes, pois confesso que não o considero tão novo assim.

Humildemente, compartilho a minha percepção. Somarei a minha experiência de consultório, unindo todos os textos e artigos que tenho lido sobre o assunto e mais as contribuições de mães que compartilham nos grupos em que participo.

O pensar na morte existe em todo indivíduo. Alguns menos presentes, outros mais. É algo que faz parte da existência. E quando a dor de viver parece insuportável, desejamos acabar com ela. Talvez você esteja lendo e diga que você nunca desejou morrer, mas eu te adianto que isso possa não ter ocorrido com você, pois nunca experimentou a angústia neste formato. Temos a tendência em querer dar fim àquilo que nos faz mal.

Os adolescentes, em especial, trazem isso em maior frequência e, geralmente, mais latente, já que nesta fase, tudo é muito intenso e vulnerável. Eles manifestam isso de forma menos defensiva e madura.

No lugar de psicóloga, ouvir de um adolescente sobre este desejo não é assustador. É inclusive bem comum. Ter formas planejadas de execução da sua própria morte também não precisa vir de outro. Muitos constroem seu fim. O que os assegura de não por em prática é a forma como a sua psique está funcionando.

Prefiro não colocar a responsabilidade só na família. Este movimento aumentaria a culpa dos pais e mães e diminuiria ainda mais a qualidade da relação que se estabelecem com seus filhos. O que acho que pode agregar neste sentido é nos “alfabetizarmos” emocionalmente. Quanta gente poliglota, mas que não sabe falar das emoções? Acredito que este seja o caminho.

“Como assim os pais não estão vendo?”. Nem eles mesmos não estão se enxergando! Estão tomados por outros interesses que podem cegar do que está tão perto. Mas mesmo quando eles estão vendo, eles podem também não saber o que fazer.

Quando eu recebo pais, especialmente de adolescentes, sinto muita preocupação e angústia da parte deles. Às vezes até desesperados com o que estão vivenciando, mas impotentes de conseguir ajudá-los.

Pulsa para mim que o que estamos, neste momento, escancarados a enxergar, é que temos muita gente doente. Os transtornos de ordem psicológica estão aí! Precisam ser valorizados e cuidados com muito respeito e investimento. E não são só os adolescentes. São as crianças, os pais, as mães. Somos todos nós. Lugares para falar das emoções. Liberdade para sentir sem ser julgado. Orientar a partir do desejo e da dificuldade do filho. É hora de abrir espaço para o lugar certo de cuidar da angústia.

Temos muitos profissionais preparados para isso. É hora de aceitar que a doença psíquica existe tanto quanto a doença física e urgentemente precisa ser tratada. De repente, dessa forma, o desejo dos nossos filhos não seja identificado por estes sádicos, criadores de maldade, e passe apenas a ser notícia.

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Thaiz Carvalho

CRP 06/81950
Al. Cauaxi, 293 – Sala 312. Alphaville. Barueri, SP.
Tel.: (11) 99788-9173
www.thaizcarvalho.com.br

2 thoughts on “Baleia Azul: um desafio real

  • 25/04/2017 em 16:29
    Permalink

    Sábias palavras! Como vc também acredito que a culpa não é só dos pais, mas de um conjunto de fatores ligados a sociedade atual, onde informar é mais importante que formar, conquistar é mais importante do que dividir e ter é mais importante do que ser! Onde a espiritualidade perdeu o lugar para a ambição e a união da familia foi deturpada pela importancia das carreiras!

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