Transplante de órgãos: veja como funciona a lista de transplantes em SP e conheça a história de Carla Müller, moradora de Alphaville, que tem um novo coração

Transplante de órgãos: veja como funciona a lista de transplantes em SP e conheça a história de Carla Müller, moradora de Alphaville, que tem um novo coração
Pacientes que precisam de um novo órgão são inseridos no Cadastro Técnico do Sistema Estadual de Transplantes de São Paulo. Foto: Reprodução / Associação Brasileira de Transplante de Órgãos.

 

Dia 27 de setembro é o Dia Nacional da Doação de Órgãos. Por isso, neste mês a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos promove a campanha Setembro Verde para conscientizar a população sobre a importância desse gesto.

Alguns órgãos podem ser doados em vida, como rim e fígado. Outros dependem do diagnóstico de morte cerebral e de autorização da família. O Ministério da Saúde orienta aos futuros doadores que conversem com os familiares e autorizem por escrito a doação dos órgãos e tecidos.

Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2018, foram realizados 26.518 transplantes. Destes, 8.853 foram de coração, fígado, pâncreas, pulmão e rim (sendo este último o com maior número, 5.999); 14.778 de córnea; e 2.877 de medula óssea. Do total de transplantes realizados no Brasil, 96% foram pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que destinou R$ 1.036 bilhão para esse fim.

 

Como funciona a lista de transplantes em SP?

Compete ao Sistema Estadual de Transplantes (central de transplantes) realizar a gestão do cadastro técnico dos potenciais receptores que aguardam por um transplante no Estado de São Paulo. Todo paciente que necessita de um transplante, deverá ser inscrito neste cadastro por uma equipe transplantadora que realizará todo o seu acompanhamento durante o pré-transplante como também após o procedimento.

Além disso, a central estadual de transplantes realiza a distribuição dos órgãos de todos os doadores viabilizados, seguindo critérios técnicos definidos por lei para gerar a seleção dos potenciais receptores aptos a receber o transplante. Alguns destes critérios considera:

  • Igualdade do grupo sanguíneo ABO seguido de compatibilidade;
  • O tempo de inscrição do receptor (classificação por ordem cronológica de inscrição);
  • Relação antropométricas (como peso e altura) entre doador e receptor e, para casos graves, com risco eminente de morte, situações de priorização.

O Coordenador do Sistema Estadual de Transplantes de São Paulo, Francisco Monteiro, explica que a legislação estabelece vários critérios para priorizar o paciente que estiver mais grave: “Por exemplo, no caso do coração, uma pessoa que tem dificuldade de andar, fica cansado, precisa tomar medicamento na veia 24 horas por dia, necessitando estar internada para a administração deste medicamento, para ajudar o coração a bater mais forte, isso é um critério de priorização – essa pessoa é mais grave do que aquela que também está esperando em casa”.

Segundo o médico, a equipe responsável pelo paciente submete à central de transplante toda documentação que comprove o estado de gravidade do potencial receptor, para que este caso seja avaliado pela câmara técnica, que é um colegiado formado por médicos das principais equipes transplantadoras que vão avaliar a situação. Naqueles casos cujo transplante ocorreu sob priorização, o prontuário do paciente é auditado após o transplante.

É importante lembrar que cada estado possui a sua própria lista de espera e nenhum paciente pode estar inscrito em duas listas de estados diferentes.

Todas as medidas são adotadas para evitar qualquer tipo de fraude. E os critérios de desempate entre os pacientes são diferentes de acordo com o tipo de órgão ou tecido. Já as crianças e os adolescentes até 18 anos têm prioridade quando o doador tem a mesma faixa etária ou quando estão concorrendo com adultos.

 

Tempo de espera para o transplante de órgãos

O Coordenador do Sistema Estadual de Transplantes de São Paulo, Francisco Monteiro, explica que é difícil dimensionar o tempo de espera que cada paciente leva para receber o transplante. Isso porque depende do órgão a ser transplantado e a disponibilidade dele.

No Estado de São Paulo, há 10 Organizações de Procura de Órgãos (OPOs), responsáveis por viabilizar doadores para o cadastro técnico de pacientes que estão à espera de um transplante. As OPOs estão localizadas no:

  • Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP;
  • Santa Casa de São Paulo;
  • Hospital São Paulo da Escola Paulista de Medicina da Unifesp;
  • Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia;
  • Hospital das Clínicas da Unicamp;
  • Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto;
  • Hospital Universitário de São José do Rio Preto;
  • Hospital das Clínicas de Botucatu;
  • Santa Casa de Itu;
  • Hospital das Clínicas de Marília.

No primeiro semestre de 2023, foram realizados mais de 5 mil transplantes em todo o estado. Mas o médico ressalta que esse número ainda está aquém do que São Paulo poderia realizar, já que a taxa de recusa familiar chegou a 38%. O percentual é menor se comparado à média nacional, mas ainda é alta.

“Eu preciso usar estratégias para aumentar o número de doadores e disponibilizar mais órgãos para os pacientes do cadastro técnico”. Para isso, é essencial que as famílias se conscientizem sobre a importância da doação, já que ela só ocorre, após o consentimento.

O médico afirma que uma das maiores preocupações dos familiares é como o corpo do doador fica após a doação. “É uma cirurgia, o doador não sofre nenhuma mutilação. O corpo é cuidadosamente reconstituído para o velório, se houver. Não há necessidade de sepultamento especial, é um sepultamento normal, seguindo todos os trâmites. Se precisar passar no Instituto Médico Legal isso também vai ter prioridade para ser avaliado liberado e assim por diante”, explica Francisco Monteiro.

 

Carla Müller, moradora de Alphaville, está entre os 5 mil transplantados no 1º semestre de 2023

No primeiro semestre de 2023, o Estado de São Paulo registrou 5.077 transplantes de órgãos, um aumento de 10,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Nas operações de coração, foram 75 órgãos transplantados de janeiro a junho, dois a mais que em 2022 e também superando os primeiros semestres de 2021 (73), 2020 (67), 2019 (74) e 2018 (64), de acordo com os registros da Central de Transplantes do Estado.

A moradora de Alphaville, Carla Müller, de 40 anos, passou 311 dias internada até ir para casa com seu novo coração. “Hoje já estou há mais de 7 meses com essa nova vida, feliz e conhecendo tudo o que posso fazer já me minha saúde foi restabelecida”, celebra.

Confira o vídeo publicado por Carla em suas redes sociais e repostado no Instagram @faustaodomeucoracao, página criada pela família de Fausto Silva para compartilhamento de histórias sobre doação de órgãos.

 

Em 2011, Carla descobriu uma doença genética no coração, a Displasia (ou Cardiomiopatia) Arritmogênica do Ventrículo Direito, um problema raro, mas potencialmente fatal. “Na época, fiz uma cirurgia para implantar um CDI (desfibrilador) e comecei o tratamento com diversos medicamentos. Infelizmente essa doença é degenerativa e a minha evolução foi rápida, na qual meu coração ficava cada dia maior e sua função cada dia menor, levando a um quadro de insuficiência cardíaca grave, prejudicando principalmente o fígado e o estômago”, descreve.

Ela chegou ao Incor em 7 de abril de 2022 com um trombo de sangue no ventrículo e derrame pleural e já não conseguia respirar e ter uma vida normal. “O transplante se tornou o único tratamento que poderia salvar minha vida”, relata.

Carla fez seu transplante de coração no dia 9 de janeiro e recebeu alta no dia 10 de fevereiro de 2023. “Transplante é vida. Doe órgãos e salve vidas!”, incentiva.

 

Transplante de órgãos: veja como funciona a lista de transplantes em SP e conheça a história de Carla Müller, moradora de Alphaville, que tem um novo coração
No 1º semestre de 2023, o Estado de São Paulo registrou 5.077 transplantes de órgãos, um aumento de 10,5% em relação ao mesmo período do ano passado. Foto: Getty Images / iStockphoto.

 

Confira a seguir os principais esclarecimentos do Sistema Estadual de Transplantes de São Paulo sobre a doação de órgãos:

Qualquer pessoa pode ser uma doadora de órgãos?
Qualquer cidadão pode ser um doador de órgãos. O processo para ser um doador é estabelecido por lei e segue vários passos que chamamos de protocolos para a constatação da morte encefálica, situação obrigatória para que a pessoa possa ser doadora. Mas, para que a doação ocorra de fato, é necessária a autorização expressa dos familiares mais próximos.

Preciso avisar a minha família que quero ser um doador?
O papel da família na decisão sobre doação de órgãos é fundamental. A doação só ocorre com autorização dos parentes mais próximos, por isso, nunca é demais reforçar a importância de que o assunto seja discutido com familiares para que a pessoa expresse claramente o desejo de se tornar doadora.

A doação ocorre apenas quando a pessoa morre?
A doação entre vivos só ocorre se não houver nenhum problema de saúde para a pessoa que está doando. Doar a medula óssea, por exemplo, é um procedimento simples, pode salvar vidas e não traz nenhum risco para o doador. Em pouco tempo, a medula estará completamente regenerada.

Órgãos como o rim e parte do fígado também podem ser doados em vida. Para se tornar um doador vivo, no entanto, existem vários requisitos: é preciso ter boa saúde e aprovação em um processo rigoroso, detalhado e muito criterioso para que os riscos ao doador sejam reduzidos. Mesmo assim, o doador pode ter complicações inerentes a este procedimento.

Fontes: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, Senado e Governo de SP.


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